Presunção e complacência



Após o crente haver reconhecido o perigo de ser empurrado para além da vontade de Deus, surge o perigo de ficar o crente aquém da vontade do Senhor. Vemos que a nossa vitória se baseia na graça e que nenhuma boa obra de nossa parte é necessária para torná-la realidade. Temo-nos regozijado no fato de havermos aprendido que podemos "deixar Deus fazer tudo", e Ele realmente cumpre de modo abundante o Seu compromisso de nos valer se confiarmos nEle.

E agora vem o perigo da presunção quanto à graça de Deus - substituição da fé pela presunção, da liberdade pela libertinagem. Costumávamos pensar que quanto mais estudávamos a Bíblia mais vitoriosos nos tornávamos. Costumávamos imaginar que quanto mais tempo dedicássemos à oração mais vitoriosos nos poderíamos tornar. Mas agora percebemos que as boas obras não podem obter para nós a vitória, mas que a fé simples, na suficiência da graça de Deus, é o grande segredo. Ora, agora somos tentados a pensar mais ou menos como segue: "Bem, sendo assim, agora não preciso ter tanto cuidado, dedicando tanto tempo ao estudo da Bíblia ou à oração, porque “Cristo está fazendo tudo". E é a partir desse momento que começamos a escorregar para a derrota, tendo sido iludidos por uma mentira de Satanás. É verdade que a vitória se alcança pela fé; mas a fé precisa ser nutrida; e a fé não pode ser alimentada à parte do fortalecimento diário, mediante a Palavra de Deus, em que fiquemos sozinhos com Deus, em oração. A nova experiência da libertação do poder do pecado, por intermédio da plena suficiência de Cristo, deveria resultar em passarmos mais tempo com a Sua Palavra, mais tempo com Ele, em oração; e nunca menos tempo. Nunca, nunca e nunca, durante a existência terrena, ouse qualquer crente negligenciar a Palavra escrita de Deus.

Para cada bênção espiritual corresponde um perigo. Em nosso conhecimento acerca da maravilhosa bênção - por exemplo - que nosso Senhor nos perdoa instantaneamente os pecados e nos purifica e restaura, ao Lhe confessarmos e ao exercermos fé nEle, corremos o perigo de levar o pecado como uma brincadeira, tolerando interrupções na nossa carreira vitoriosa como se fossem coisas destituídas de importância. Jamais teremos de perder o nosso horror pelo pecado, se, em Cristo, pudermos ver o pecado segundo ele realmente é, e o odiarmos como algo asqueroso, infernal. Se porventura escorregarmos, mesmo que de leve, se descobrirmos que o pecado penetrou, mediante a incredulidade quanto à suficiência de nosso Senhor, interrompamos sem perda de tempo (imediatamente) qualquer coisa que estivermos fazendo, dedicando o tempo necessário para confessar tal coisa a Ele, reivindicando o Seu perdão e total purificação, confiando em que Ele nos dará Sua completa restauração e vitória. 

"O Senhor Deus é a minha fortaleza . . . e me faz andar vitoriosamente" (Bíblia, Habacuque 3:19) Essa é a única oração segura, o único nível seguro para o crente que em qualquer tempo tenha conhecido a vitória. É perigoso olharmos de volta para as nossas melhores bênçãos de vitória em Cristo, como se essas maiores bênçãos pertencessem necessariamente ao passado. Essa é uma tentação quase inevitável, porquanto as novas bênçãos da vitória, quando alguém confia em Cristo pela primeira vez, são tão novas, tão inesperadas, tão avassaladoras, tão satisfatórias. E assim podemos ficar olhando de volta para aquelas horas deliciosas ou para aqueles primeiros dias ou meses, supondo, inconscientemente,
que nunca mais poderemos desfrutar da rica bênção que então nos foi proporcionada. Mas isso equivale a negar a suficiência da graça de Deus, equivale a negar que nosso Senhor é o mesmo hoje, ontem e para todo o sempre.

E é igualmente perigoso olharmos para o futuro, como o tempo em que as melhores bênçãos de Deus, entesouradas para nós, se tornarão realidade. Porquanto Deus quer que tenhamos o que Ele tem de melhor agora mesmo. Situar essas melhores bênçãos, no passado ou no futuro, é um perigo para o qual Satanás muitíssimo se esforçará para nos arrastar e conservar. Também, não sejamos enganados permitindo que as grandes necessidades do mundo exterior ou da Igreja de Cristo requeiram tanto de nosso tempo e energia que sejamos arrebatados por elas, separando-nos dos entes queridos no círculo da família. Os crentes que se regozijam em Cristo como a sua vitória, algumas vezes precisam de aprender primeiramente a serem cuidadosos com os seus, lembrando-se que se alguém "não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente" (Bíblia, 1 Timóteo 5:4,8)

A vida vitoriosa, em Cristo, é a única vida completa e satisfatória que há em todo o mundo. É vivida com o corpo, com a mente e com o espírito; e com todas essas porções do homem pode ser vivida vitoriosamente, tocando assim, em nossos semelhantes, nos pontos apropriados de contacto humano, com seus corpos, suas mentes ou seus espíritos. É mister que nós, os crentes, estejamos sempre postados como sentinelas, sensivelmente despertos para qualquer aproximação do inimigo, em todas as mil e uma modalidades mediante as quais ele busca rachar nossa armadura defensiva. Porém, não devemos pensar mais em Satanás do que em Cristo, como se aquele fosse superior a este último. É necessário que reconheçamos a terrível realidade da existência do diabo; temos de estudar a Palavra de Deus no que ela revela sobre o nosso grande adversário, para que saibamos tudo quanto Deus quer que conheçamos a respeito dele. Todavia, uma vez que tenhamos esse conhecimento, devemos desviar os olhos de Satanás e fixá-los em Jesus, porquanto "... em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou" (Bíblia, Romanos 8:37) E também: "Graças, porém, a Deus, que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento" (Bíblia, 2 Coríntios 2:14)



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